Por Renata Maia
Jornalista
@renatamarquesmaia
Minha filha é uma menina autista que adora dançar. Não importa o lugar: supermercado, shopping center, escola, salas de espera. Onde há espaço, ela cria seu palco. E brilha, flutua. Além disso, ela puxa conversa com desconhecidos, fazendo perguntas inesperadas e carregadas de sinceridade. Muitas vezes, ela surpreende as pessoas com abraços. Aconteceu hoje, com a moça no caixa do supermercado, e ontem, com o funcionário do restaurante.
Eu confesso que, às vezes, ainda sinto medo dessa falta de defesa ou de máscaras dela. Medo dos olhares atravessados, dos sorrisos contidos, dos julgamentos – silenciosos ou não. No entanto, eu descobri que, em um mundo que gosta de moldar tudo ao padrão, é um ato de coragem deixar que alguém se mova fora da linha. Quem somos nós para decidir como os outros devem existir?
Quando minha filha dança, é como se o tempo parasse. O que, para muitos, pode ser desconforto, para mim é poesia. Cada rodopio é uma declaração de liberdade. Cada abraço que ela oferece, uma lição de empatia. Ela não tem medo de ser vista, de ser sentida, de se conectar.
Mesmo com medo, eu aprendi – com a minha filha, com a vida e com os textos da Adélia Prado – que amar é soltar o controle e abrir espaço. É acreditar que a autenticidade vale mais do que a aprovação. Amar é deixar que ela exista do jeito que é – e ter o privilégio de existir ao lado dela.