9 de outubro de 2025 às 12h25min

Por Rafael Vaisman — CEO da We Stand e Carbono B
A luz que nasce do chão rachado
Há uma luz que nasce antes do sol no Nordeste.
É a claridade do chão rachado que insiste em florescer, do vento que sopra entre o sertão e o mar, das vozes que cantam em cadência própria — meio canto, meio reza, meio riso.
É ali que o Brasil se reconhece em sua raiz mais antiga e mais nova: o Nordeste é memória, força e promessa.
São Paulo, sotaque e pertencimento
Hoje vivo em São Paulo, no coração dos grandes eventos e projetos que moldam o futuro da sustentabilidade e da inovação.
Mas trago comigo o som da minha terra — e faço questão de lembrar:
Digo DIA, não djia.
Digo TIA, não tchia.
Digo arretado, oxente, massa.
Cada palavra é uma bandeira.
Meu sotaque não é traço de origem: é mapa de pertencimento, é o território sonoro que me acompanha em cada palco, reunião e construção de futuro.
O Nordeste como vanguarda
O Nordeste nunca foi periferia — foi vanguarda.
De Gilberto Freyre, que reinterpretou a casa-grande e a senzala, a Ariano Suassuna, que transformou o popular em filosofia.
De Luiz Gonzaga, rei do baião e da resistência, a Rachel de Queiroz, primeira mulher na Academia Brasileira de Letras.
De Patativa do Assaré, poeta do sertão, a Josué de Castro, o homem que denunciou a fome como estrutura política.
Todos eles ensinaram que o Nordeste não é um lugar de carência, mas de criação.
Economia que move e regenera
Segundo o IBGE, o Nordeste responde por cerca de 14% do PIB nacional, mas sua potência vai além dos números:
- É líder na transição energética, com mais de 80% da energia limpa do país.
- É destino de milhões de turistas que fortalecem a economia circular de comunidades locais.
- É o berço de empreendedores sociais que reinventam o desenvolvimento a partir da escassez.
Como diria Celso Furtado, “o subdesenvolvimento não é uma etapa, é uma estrutura.”
Hoje, o Nordeste mostra que é possível desmontar essa estrutura com inovação e equidade.
Sustentabilidade e equidade: duas faces da mesma luta
Sustentabilidade não é plantar árvore pra compensar culpa — é redistribuir poder.
Como escreveu Milton Santos, “o espaço é o palco da solidariedade ou da exclusão.”
E o Nordeste tem escolhido o primeiro caminho.
A justiça climática que buscamos começa onde o sol queima mais forte, onde o povo resiste com um sorriso.
Na caatinga, aprendemos que resiliência não é jargão de ESG, é modo de existir.
Humanidade e tecnologia caminham juntas
Paulo Freire dizia que “ninguém educa ninguém; os homens se educam em comunhão.”
É essa comunhão que precisamos levar para os negócios e eventos.
Quando levo a Carbono B e a We Stand para os palcos do Brasil e do mundo, carrego esse aprendizado:
Tecnologia sem humanidade é deserto.
Sustentabilidade sem equidade é vitrine vazia.
Um Nordeste que ensina o mundo
Amartya Sen nos lembra: “desenvolvimento é liberdade, não consumo.”
E Vandana Shiva completa: “a biodiversidade é o tecido da vida e o símbolo da democracia da Terra.”
O Nordeste entende isso desde sempre.
Cada feirante, cada agricultora, cada pescador traduz essa sabedoria em práticas sustentáveis que alimentam o corpo e a alma.
O sotaque como resistência
Neste 8 de outubro, celebrar o Nordeste é celebrar o Brasil que fala alto com ternura, que luta sem perder a doçura.
O sotaque é um ato político — um lembrete de que resistir é também afirmar o direito de falar como se é.
Eu, nordestino arretado em São Paulo, vejo nos eventos sustentáveis uma nova forma de revolução.
Cada stand, cada palco, cada empresa que assume sua pegada e investe em biocréditos faz parte de um pacto por um país mais justo, inclusivo e regenerativo.
Sonho, recomeço e esperança
Naomi Klein escreveu que “a crise climática é o resultado de uma crise de imaginação.”
E o Nordeste nunca teve medo de imaginar.
Mesmo quando falta chuva, sobra sonho.
Mesmo quando falta recurso, sobra coragem.
Seguimos, então, com o pé na terra e o olhar no horizonte.
Levando nosso sotaque arretado pro mundo, lembrando que sustentabilidade é sobre gente, sobre voz, sobre vida.
Cada oxente é também um convite — o convite pra recomeçar, juntos, de forma mais justa, diversa e verdadeiramente brasileira.