
Minha filha acaba de completar 11 anos. Onze. E não me canso de olhar pra ela. Minha linda menina – que ilumina a casa, a minha vida, o universo inteiro.
Recentemente, precisou passar por uma cirurgia na boca, com anestesia geral. E eu assisti, com os olhos molhados de orgulho, a uma menina tranquila e sorridente, dançando até o último minuto – mesmo estando em jejum, mesmo tendo sido acordada de madrugada, mesmo sendo apenas uma menina – entrando no centro cirúrgico como quem vai brincar no parquinho. No pós-operatório, mais doçura: nenhuma queixa, nenhum resmungo, só ela, colorida de leveza, mesmo com os pontos e os incômodos.
Dias depois, puxou uma gaveta pesada que caiu no pé. Um corte profundo. A unha, roxa. Mais uma vez, nada de lágrimas, nem um ai. Apenas um pequeno susto ou, como me contou – com espanto e orgulho – o seu irmão, que presenciou a cena: “Manu é muito forte, mamãe, sangrou muito e ela nem chorou. Ela só balançou os braços bem rápido e pronto”. Logo, ela já estava aos pulos pela casa – brincando e espalhando sangue pelo corredor, pois não conseguiu ficar com o pé “de molho” na água com gelo.
Ela dança – e pula – até quando dói. E eu fico ali, olhando. Tentando entender como é possível tanta leveza na dor. Tentando não explodir de orgulho daquele ser tão leve.
É bonito, sim. Encantador. Mas também é preocupante. Porque penso que a dor, quando não vem pra fora, fica por dentro — e pode virar silêncio, tensão, ansiedade, medo. A dor, quando não grita, cochicha segredos que a gente nem sempre entende. A dor, quando não aparece, não deixa de existir. Só muda de roupa.
Minha filha sente com o corpo todo, mas nem sempre diz com palavras. E eu tento aprender, todos os dias, a ouvir o que ela não diz. Porque o jeito dela de existir é poesia, mas também é enigma.
Sinto orgulho dela. Por ela. Pela força que não se exibe, pela dor que ensina, pela doçura que resiste, pela alegria infinita. Ela é mais forte do que qualquer pessoa que eu já conheci. Uma força da natureza. E mesmo assim, continua sendo só uma menina. A minha menina.