Sobre capacitismo

Por Renata Maia
@renatamarquesmaia

Muitas pessoas me perguntam o que é capacitismo e é sempre difícil explicar. Conceitualmente, esse é um termo que designa preconceitos e discriminações direcionadas a pessoas com deficiência. O capacitismo se manifesta de diversas maneiras. Ele está nas piadas que consideram a deficiência um motivo de risadas, nas fachadas de prédios que ignoram a acessibilidade, e até em práticas educacionais que excluem alguns alunos.

Capacitismo, é preciso que a gente entenda, não é só o ato de excluir. É aquele detalhe que te escapa, mas tá lá, no ar. Tá no olhar atravessado que nem olha a pessoa direito, no comentário que tenta ser gentil, mas escorrega. É o espaço que até te deixa entrar, mas nunca te acomoda de verdade. Sempre parece que falta alguma coisa. Ou sobra. Depende do ponto de vista.

É como se te convidassem pra uma festa, mas quando você chega, não tem cadeira pra você sentar. E aí fica aquela situação estranha. Você finge que tá tudo bem, os outros fingem que não notam. Mas tá lá, presente, um desconforto que ninguém nomeia… O capacitismo é como um elefante no meio da sala. Todo mundo vê aquele animal enorme, mas sorri e segue a vida como se ele não existisse. A verdade é que você não precisa só estar na festa. Você deveria se sentir parte dela. Sentir que, de algum jeito, aquele espaço é seu também, sem pedir licença, sem pedir desculpa por ocupar…

Não é só a porta que não abre. É a sensação de que, mesmo quando ela abre, você não deveria ter entrado. O mais doloroso é que muitas pessoas com deficiência são levadas a acreditar em sua própria inadequação… Essas pessoas começam a acreditar que precisam ser mais, fazer mais, provar mais. Começam a achar que precisam compensar algo ou mesmo justificar o espaço que ocupam. E, sabe, ser um “exemplo de superação” muitas vezes vem desse lugar de muita dor, abandono e invisibilidade.

Ninguém, absolutamente ninguém, deveria ter que justificar a própria existência.